Ramakrishna Vedanta Ashrama
Ramakrishna Vedanta Ashrama
Afiliado à Ordem Ramakrishna da Índia

O QUE É VEDANTA?


Vedanta é uma das mais antigas filosofias espirituais do mundo, e uma das mais amplas, baseada nos Vedas, as escrituras sagradas da Índia. É a base filosófica do hinduísmo; mas enquanto o hinduísmo inclui aspectos da cultura indiana, o Vedanta é universal em sua aplicação e é igualmente relevante para todos os países, todas as culturas e todas as práticas religiosas.

O Vedanta afirma:
•A unidade da existência
•A divindade da alma
•A harmonia de todas as religiões.

Um olhar mais atento à palavra "Vedanta" é revelador: "Vedanta" é uma combinação de duas palavras: "Veda", que significa "conhecimento", e "anta", que significa "o fim" ou "o objetivo de". Nesse contexto, o objetivo do conhecimento não é intelectual — o conhecimento limitado que adquirimos pelos livros. "Conhecimento" aqui significa o conhecimento de Deus, como também o conhecimento de nossa própria natureza divina. Vedanta, então, é a busca pelo autoconhecimento, bem como a busca por Deus.

O que queremos dizer quando dizemos Deus? De acordo com o Vedanta, Deus é Sat-Chit-Ananda - existência infinita, consciência infinita e felicidade infinita. O termo para essa realidade impessoal e transcendente é Brahman, a base divina da existência. No entanto, o Vedanta afirma que Deus pode também ser pessoal, assumindo uma forma humana em todas as épocas. Mais importante, Deus habita dentro de nossos próprios corações como o divino Eu ou Atman. O Atman nunca nasce nem morre. Não maculado por nossas falhas nem afetado pelas variações do corpo ou da mente, o Atman não está sujeito à nossa dor ou desespero ou doença ou ignorância. Puro, perfeito, livre de limitações, o Atman é um com Brahman, declara o Vedanta. O maior templo de Deus está dentro do coração humano.

O Vedanta afirma que o objetivo da vida é realizar e manifestar nossa própria divindade. Essa divindade é nossa verdadeira natureza, e sua realização é nosso direito de nascença. Estamos caminhando para esse objetivo à medida que crescemos com o conhecimento e as experiências de vida. É inevitável que, ao final, seja nesta ou em vidas futuras, descubramos que a maior verdade de nossa existência é nossa própria natureza divina.

O Vedanta afirma ainda que todas as religiões ensinam as mesmas verdades básicas sobre Deus, o mundo e a relação entre as pessoas. Milhares de anos atrás, o Rig Veda declarou: "A verdade é uma, os sábios chamam-na por vários nomes." As religiões do mundo oferecem diferentes conceitos de Deus, cada um verdadeiro e válido, cada religião oferecendo ao mundo um caminho único e insubstituível para a realização de Deus. As mensagens conflitantes que encontramos entre as religiões devem-se mais à doutrina e ao dogma do que à realidade da experiência espiritual. Embora existam diferenças nas observâncias externas das religiões mundiais, sua natureza interna possui semelhanças notáveis.


A Unidade da Existência
O Conceito de Maya
Karma e Reencarnação
Harmonia das Religiões
A Unidade da Existência

A Unidade da Existência

A unidade da existência é um dos grandes temas da Vedanta e um pilar essencial de sua filosofia. Unidade é a canção da vida; é o grande tema que está por trás das ricas variações que existem em todo o cosmos. Tudo o que vemos e o que experimentamos é apenas uma manifestação dessa unidade eterna. A divindade no centro do nosso ser é a mesma divindade que ilumina o sol, a lua e as estrelas. Não há lugar onde nós, infinitos em nossa natureza, não existimos.


Embora o conceito de unidade possa ser intelectualmente atraente, é sem dúvida muito difícil colocá-lo em prática. Não há dificuldade em sentir essa união com os grandes e nobres seres ou com aqueles que já amamos. Também não é difícil para nós experimentar um sentimento de união com as árvores, o mar e o céu.


Mas a maioria de nós recusa-se a aceitar a unidade com seres repelentes como a aranha ou o rato – sem mencionar o colega de trabalho detestável que mal podemos tolerar. No entanto, é precisamente aqui que precisamos aplicar os ensinamentos do Vedanta e perceber que todos esses múltiplos aspectos da criação estão unidos dentro e através da divindade. O Ser que está dentro de mim, o Atman, é o mesmo Ser que está dentro de você, não importa se o "você" em questão é um santo, um assassino, um gato, uma mosca, uma árvore, ou um motorista irritante que encontramos no trânsito.      


"O Ser está em toda parte", diz o Isha Upanishad. "Aquele que vê todos os seres no Ser, e o Ser em todos os seres, não odeia ninguém. Para aqueles que veem a unidade em todos os lugares, como pode haver decepção ou tristeza? " (isha upa. verso1) .Todo o medo e toda a infelicidade surgem do nosso senso de separação da grande unidade cósmica, da rede de existência que nos cerca.


"Há medo do outro", diz o Brihadaranyaka Upanishad. Dualidade, nosso senso de separação do resto da criação, é sempre um equívoco, pois implica a existência de algo que não é Deus. Não pode haver outros. "Este grande ensinamento, a unidade de todas as coisas, que nos faz um com tudo o que existe, é a grande lição a aprender", disse Swami Vivekananda há um século. ....


O Ser é a essência do universo, a essência de todas as almas... você é um com o universo. Aquele que diz que ele é diferente dos outros, mesmo que apenas por um cabelo, torna-se imediatamente infeliz. A felicidade pertence àquele que conhece essa unidade, àquele que sabe que ele é um com o universo.


O Conceito de Maya

O Conceito de Maya


O Vedanta declara que nossa verdadeira natureza é divina: pura, perfeita, eternamente livre. Não precisamos nos tornar Brahman, nós somos Brahman. Nosso verdadeiro Eu, o Atman, é um com Brahman. Mas se nossa verdadeira natureza é divina, por que então estamos tão incrivelmente inconscientes dela?

A resposta para essa pergunta está no conceito de maya, ou ignorância. Maya é o véu que cobre nossa verdadeira natureza e a verdadeira natureza do mundo ao nosso redor. Maya é fundamentalmente insondável: não sabemos por que ela existe e não sabemos quando ela começou. O que sabemos é que, como qualquer forma de ignorância, maya deixa de existir quando surge o conhecimento, o conhecimento de nossa natureza divina.

Brahman é a verdade de nossa existência: em Brahman vivemos, nos movemos e existimos. "Tudo isso é realmente Brahman", declaram os Upanishads – as escrituras que compõem a filosofia Vedanta. O mundo em mudança que vemos ao nosso redor pode ser comparado com as imagens que se movem em uma tela de cinema: sem a tela imóvel atrás dele, não pode haver filme. Da mesma forma, por trás desse mundo em mudança, existe o imutável Brahman – o substrato da existência – que dá ao mundo sua realidade.

No entanto, para nós, essa realidade está condicionada, como um espelho deformado pelo tempo, espaço e causalidade – a lei de causa e efeito. Além disso, nossa visão da realidade ainda é ofuscada por uma identificação errada: nós nos identificamos com o corpo, a mente e o ego, em vez de nos identificarmos com o Atman, o Ser divino.

Essa percepção equivocada primordial cria mais ignorância e dor, em um efeito dominó: à medida que nos identificamos com o corpo e a mente, tememos a doença, a velhice e a morte; à medida que nos identificamos com o ego, sofremos com a raiva, o ódio e centenas de outros tormentos. Ainda assim, nada disso afeta nossa verdadeira natureza, o Atman.

Maya pode ser comparada com as nuvens que cobrem o sol: o sol permanece no céu, mas as densas nuvens nos impedem de vê-lo. Quando as nuvens se dispersam, tornamo-nos conscientes de que o sol estava lá o tempo todo. Nossas nuvens – maya-, que surgem como egoísmo, ódio, ganância, luxúria, raiva, etc., são dispersadas quando meditamos sobre nossa verdadeira natureza, quando nos envolvemos em ações altruístas e quando, consistentemente, agimos e pensamos de modo a manifestar nossa verdadeira natureza, cultivando a veracidade, a pureza, o contentamento, o autocontrole e a paciência. Essa purificação mental afasta as nuvens de maya e deixa nossa natureza divina brilhar.

Shankara, o grande filósofo-sábio indiano do século VII, usou o exemplo da corda e da cobra para ilustrar o conceito de maya. Andando por uma rua escura, um homem vê uma cobra; seu coração bate mais rápido, seu pulso acelera. Em uma observação mais minuciosa, percebe que a "cobra" era um pedaço de corda enrolada. Uma vez que a ilusão se foi, a cobra se foi para sempre.

Assim, caminhando pela rua escura da ignorância, vemo-nos como criaturas mortais, e ao nosso redor vemos o universo de nome e forma, o universo condicionado pelo tempo, espaço e causalidade. Nós nos tornamos conscientes de nossas limitações, escravidão e sofrimento. Em uma observação mais minuciosa, percebemos que tanto a criatura mortal quanto o universo são ninguém menos que Brahman. Uma vez que a ilusão se foi, nossa mortalidade e também o universo se foram para sempre. Vemos Brahman existindo em todos os lugares e em todas as coisas.


Karma e Reencarnação

Karma e Reencarnação


O sofrimento humano é um dos mistérios mais constrangedores da religião. Por que pessoas inocentes sofrem? Por que Deus permite o mal? Deus não pode fazer nada ou Ele escolhe não fazer? E se Ele decidir não fazê-lo, isso significa que ele é cruel? Ou apenas indiferente?

O Vedanta tira o problema da jurisdição de Deus e com firmeza transfere-o para nós. Não podemos culpar nem Deus nem o diabo. Nada acontece conosco por capricho de algum agente externo: nós mesmos somos responsáveis pelo que a vida nos traz; estamos todos colhendo os resultados de ações anteriores, nesta vida ou em vidas passadas. Para entender melhor isso, devemos primeiro entender a lei do karma.

A palavra karma vem do verbo sânscrito kri, fazer. Embora karma signifique ação, também significa o resultado da ação. Qualquer ação que tenhamos praticado ou qualquer pensamento que tenhamos tido criaram uma impressão, tanto em nossas mentes quanto no universo ao nosso redor. O universo nos devolve o que lhe demos: "Colhemos o que semeamos", disse o Cristo. Bons pensamentos e ações criam bons efeitos; ações e pensamentos ruins criam efeitos ruins.

Impressões mentais

Sempre que realizamos alguma ação e sempre que pensamos, uma impressão – uma espécie de impressão sutil – é criada na mente. Essas impressões ou marcas são conhecidas como samskaras. Às vezes estamos cientes desse processo de impressão, mas com frequência deixamos de estar. Quando as ações e pensamentos se repetem, as marcas se tornam mais profundas. A combinação dessas marcas - samskaras – cria nosso caráter individual e também influencia fortemente nossos pensamentos e ações subsequentes. Se sentimos raiva facilmente, por exemplo, criamos uma mente furiosa que está predisposta a reagir com raiva em vez de agir com paciência ou compreensão. Assim como a água ganha força quando se move para dentro de um canal estreito, as impressões mentais também criam canais – os padrões de comportamento -, que se tornam extraordinariamente difíceis de resistir ou reverter. Mudar um hábito mental arraigado torna-se uma batalha difícil.

Se nossos pensamentos predominantes são de bondade, amor e compaixão, nosso caráter reflete isso e esses mesmos pensamentos voltarão para nós mais cedo ou mais tarde. Se enviarmos pensamentos de ódio, raiva ou mesquinhez, esses pensamentos também voltarão para nós.

Nossos pensamentos e ações agem mais como bumerangues do que como flechas – eles ao final encontram o caminho de volta. Os efeitos do karma podem vir imediatamente, mais tarde na vida ou em outra vida; o que é absolutamente certo, no entanto, é que em algum momento eles vão aparecer. Até que a liberação seja alcançada, vivemos e morremos dentro dos limites da lei do karma, o grilhão de causa e efeito.

Harmonia das Religiões

Harmonia das Religiões


"A verdade é uma, os sábios chamam-na por diferentes nomes", declarou o Rig Veda, um dos textos mais antigos de Vedanta, há milhares de anos.

Todos buscamos a verdade, afirma o Vedanta, e essa verdade aparece em inúmeros nomes e formas. A verdade – a realidade espiritual – continua sendo a verdade, embora apareça em diferentes formas e por meio de vários caminhos. "Seja qual for o caminho que as pessoas percorram, esse é o meu caminho", diz o Bhagavad Gita. "Não importa por onde você ande, todas as estradas levam a Mim."


Se todas as religiões são verdadeiras, por que tanta luta?

Principalmente por causa da política, e das distorções que as culturas e as mentes humanas limitadas impõem à realidade espiritual. O que é geralmente considerado "religião" é uma mistura de coisas essenciais e não essenciais. Como Sri Ramakrishna disse, todas as escrituras contêm uma mistura de areia e açúcar. Precisamos separar o açúcar e deixar a areia: devemos extrair a essência da religião – seja ela união com Deus ou auto-realização – e deixar o resto para trás. Vamos abraçar aquilo que nos ajuda a manifestar nossa divindade, e evitar aquilo que nos tira desse ideal.

A carnificina inflingida ao mundo em nome da religião tem muito pouco a ver com religião genuína. As pessoas lutam por doutrinas e dogmas; não ouvimos falar de ninguém sendo assassinado na tentativa de alcançar a união divina! Uma "guerra religiosa" é, na realidade, egoísmo enfurecido em grande escala. Como diria sorrindo Swami Prabhavananda, fundador da Sociedade Vedanta do Sul da Califórnia – EUA: "Se você colocar Jesus, Buda e Maomé juntos na mesma sala, eles se abraçarão; mas se você colocar seus seguidores juntos, eles poderiam matar uns aos outros!".

A verdade é apenas uma, mas aparece filtrada pela mente humana limitada. Essa mente vive em uma cultura particular, tem sua própria experiência do mundo, e vive em um determinado ponto da história. A Realidade Infinita é então processada através das limitações do espaço, do tempo, da causalidade e também através dos limites humanos da compreensão e da linguagem. Como manifestações da verdade, escrituras, sábios e profetas necessariamente variam de época para época e de cultura para cultura. A luz, quando refratada através de um prisma, aparece em muitas cores quando vista de diferentes ângulos. No entanto, a luz permanece sempre a mesma e pura luz. Isso também é verdade quando nos referimos à verdade espiritual.

Não queremos dizer que todas as religiões sejam "quase idênticas". Isso seria uma afronta à beleza distinta e à grandeza individual de cada uma das tradições espirituais do mundo. Dizer que cada religião é igualmente verdadeira e autêntica não quer dizer que se pode substituir uma pela outra, como fazemos com marcas genéricas de remédios.

Toda religião tem um dom

Cada religião tem um dom específico para oferecer à humanidade; cada religião traz consigo um ponto de vista único, que enriquece o mundo. O Cristianismo enfatiza o amor e o sacrifício; o Judaísmo, o valor da sabedoria espiritual e da tradição. O Islã enfatiza a irmandade universal e a igualdade, enquanto o Budismo defende a compaixão e a atenção plena. A tradição indígena americana ensina reverência à Terra e ao mundo natural ao nosso redor. O Vedanta, ou tradição hindu, enfatiza a unidade da existência e a necessidade da experiência mística direta.

As tradições espirituais do mundo são como diferentes peças de um quebra-cabeça gigantesco: cada peça é diferente e cada peça é essencial para completar todo o quadro. Cada peça deve ser honrada e respeitada, enquanto nos mantemos firmes com nossa peça particular do quebra-cabeça. Podemos aprofundar nossa própria espiritualidade e aprender sobre nossa própria tradição estudando outras crenças, e igualmente importante: estudar bem nossa própria tradição nos tornará mais capazes de apreciar a verdade de outras tradições.

Aprofundando nosso caminho

Assim como honramos as diferentes religiões do mundo e respeitamos seus adeptos, devemos crescer e aprofundar nosso próprio caminho espiritual particular – seja ele qual for. Não devemos explorar um pouco de Budismo, um pouco de Islã e um pouco de Cristianismo e, em seguida, tentar uma nova combinação na semana seguinte. 

Embora o Vedanta enfatize a harmonia das religiões, ele também enfatiza a necessidade de se aprofundar na tradição espiritual de nossa escolha, atendo-se a ela e trabalhando duro. Parafraseando Sri Ramakrishna, se você quer cavar um poço você tem que escolher o lugar e cavar profundamente até chegar à água. Não adianta cavar uma série de buracos rasos.

Embora uma vida espiritual superficial seja provavelmente melhor do que nenhuma, ela não nos leva aonde queremos ir: à liberdade, à realização de Deus. Quando escolhemos o caminho espiritual, devemos segui-lo persistentemente até alcançarmos o objetivo. O importante é que podemos fazer isso não apenas valorizando outras tradições, mas também aprendendo com elas.

Caminhos Diferentes: O Mesmo Objetivo

O Vedanta afirma que todas as religiões contêm as mesmas verdades essenciais, embora a forma seja diferente. E isso é bom. Todo ser humano no planeta é único. Nenhum de nós pratica a mesma religião. A mente de cada pessoa é diferente e cada pessoa precisa de seu próprio caminho para chegar ao topo da montanha. Alguns caminhos são estreitos, outros são largos. Alguns são sinuosos e difíceis, enquanto outros são seguros e demorados. No final, todos chegaremos ao topo da montanha. Então não devemos nos preocupar se nossos vizinhos se perderem no caminho. Eles também serão bem sucedidos. Todos precisamos de abordagens diferentes para combinar com nossas diferentes naturezas.

Apesar das variações externas das religiões mundiais, os conteúdos têm mais semelhanças do que diferenças. Toda religião ensina virtudes morais e éticas semelhantes; todos ensinam a importância da luta espiritual e a necessidade de honrar as outras pessoas como parte dessa luta.

"Como diferentes rios têm suas fontes em lugares diferentes, mas todos misturam suas águas com as do mar", diz uma antiga oração em sânscrito, "assim também, Ó Senhor, os diferentes caminhos que as pessoas tomam por suas diferentes tendências, sinuosos ou retos, todos levam a Ti. ”